As manifestações artísticas sempre foram formas de comunicação e registros (tangíveis e imateriais) do desenvolvimento humano, da constituição de sociedades e da história - desde povos “primitivos” à “civilizados”. Neste âmbito, tanto a arte quanto os elementos e o intuito de sua criação são fundamentos preciosos para o entendimento das transformações sociais, ou seja, para compreender e fundamentar relações, comportamentos e instituições sociais tornou-se imprescindível olhar para a ancestralidade.
No período de transição entre os séculos XIX e XX o totemismo surgiu como objeto de estudo da antropologia social para entender a origem de fenômenos naturais e sociais. Desta forma, três linhas de pensamento embasaram as pesquisas: a teoria evolucionista, nas perspectivas de Durkheim e Freud; a visão ritualista, assumida por Radcliffe-Brown e a teoria estruturalista de Levi-Strauss.
Aqui levaremos em consideração as concepções de Sigmund Freud articuladas no livro “Totem e tabu” (1913), que foram substanciais para o fundamento da psicanálise e a psicologia freudiana, bem como a sua compreensão da relação entre sociedades primitivas (povos polinésios) com o tabu e a criação do totem com sua consequente transformação em símbolo sagrado que é protegido e respeitado de forma religiosa - prática que chamamos de totemismo.
A etimologia de totem deriva de "dodaim" dos Ojibwe que significa clã ou símbolo sagrado.
Totem deriva da palavra dodaim da cultura Ojibwe (civilização aborígene canadense). Trata-se de um polo monumental compreendido como uma junção de símbolos sagrados que representam entidades naturais (animais, plantas, membros da família, etc.) ou sobrenaturais com significados particulares, cujo caráter totêmico não é atribuído apenas ao polo, mas a todos indivíduos do clã que faz parte.
No livro, Freud explica a criação dos totens e do sentido de clã utilizando como objeto de estudo o sistema totêmico dos povos aborígenes australianos e a proibição do incesto, isto é, de pessoas do mesmo totem se casarem, resgatando conceitos da exogamia e do Complexo de Édipo de Sófocles - a hostilidade com o pai e o desejo pela mãe - que dá origem ao tabu.
No totemismo, a crença religiosa do totem como elemento espiritual, há a tentativa de mitigar o sentimento de culpa cultuando-o ao mesmo tempo em que se satisfaz com o triunfo sobre ele. Como, por exemplo, filhos de um clã que se rebelam, cometem parricídio e erguem um totem para representar a figura e a alma do pai.
Freud utiliza a antropologia social para explicar a relação entre a origem do totem e o tabu.
Ele também explora a relação interditada (tabu) observando o animismo, a crença da essência espiritual em tudo o que existe, relacionando-a à ambivalência emocional, ou melhor, a inversão de sentido ou entre algo tido como sagrado, como os animais totens cultuados por determinado clã (que não podem ser tocados ou consumidos), que em outros momentos são profanados (e ingeridos).
O raciocínio evolucionista seguido por Freud torna-se mais visível quando ele aponta o totemismo como uma síntese de particularidades e necessidades sociais de hierarquização das civilizações primitivas, que são relacionadas em três fases de representações do universo: animista, religiosa e científica.
Na fase animista prevalece o princípio de onipotência do pensamento, em que os homens atribuem a si mesmos o poder sobre todas as coisas, cujo comportamento é comparado por Freud ao de neuróticos; na fase religiosa o poder é transferido para o totem (deus, divino, sagrado ou pai); já na fase científica há o reconhecimento da pequenez humana diante o universo.
O totemismo está presente em muitas culturas primitivas com símbolos peculiares a cada uma.
Em suma, o totemismo não é apenas uma prática religiosa tribal, mas um sistema que dá base a organização social de povos primitivos e às suas perspectivas de mundo, o qual conseguimos estabelecer similaridades de pensamento com culturas “civilizadas” para compreender os rumos do desenvolvimento e das instituições sociais.
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Namastê!
Milene Sousa - Arte & Sintonia