Há muito questionamento acerca dos tipos de Buda e dos significados que as imagens carregam. E embora todas sejam capazes de estimular positividade e bem-estar, onde quer que estejam, a junção de elementos que as compõem podem guiar a conexão espiritual de uma maneira mais profunda, direcionada para uma determinada intenção. Desta maneira, a variação das iconografias de Buda será não apenas um fator diferenciativo, mas também dirigente para determinados ambientes ou os anseios espirituais, emocionais e físicos.
Para a escolha da arte budista é necessário compreender os significados de Buda, bem como olhar para si mesmo com inteireza para perceber o que precisa ser motivado com a sua imagem. Os estímulos podem ser a cura, o destemor, a paz, a abundância, o desapego, a compaixão, a sabedoria, entre tantos outros que se modificam à partir de cada detalhe da escultura, da forma da cabeça à postura, como listamos abaixo!
Cabeça de Buda com ushnisha e cabelos anelados ou careca
Usnisa é a protuberância na cabeça de Buda que caracteriza uma de suas 32 iconografias.
Segundo as passagens do Sutta Digha Nikaya, antiga escritura budista, a imagem de Siddhartha Gautama não diferiria da maioria dos monges que desapegam da materialidade, e por isso seria careca. Entretanto, a característica física gerou conflitos culturais, sobretudo com a casta sacerdotal hinduísta, os Brâmanes, que não consideram auspiciosa a falta de cabelo retratada na arte budista.
Neste âmbito, surgiu a figura do mestre do Zen Budismo com cabelos ondulados e uma protuberância no topo da cabeça de Buda, o Usnisa ou Ushnisha; como o indólogo e budista Hans Wolfgang Schumann fundamenta em sua bibliografia. Este símbolo da luz do conhecimento veio à tona no Reino Gandara, entre os séculos I e II A.E.C., com a influência artística do Reino Greco-báctrio.
Ao seguir essa leitura, as representações iconográficas de Buda deixaram as características humanas e se tornaram mais deíficas. E o Ushnisha, por sua vez, se converteu em uma das 32 iconografias simbólicas associadas a trajetória do Buda Histórico. Ainda assim, essas diferenças evidentes nas artes plásticas servem para dar luz à duas visões sobre Buda: como humano ou divindade.
Tipos de vestes monásticas e as vertentes do Budismo
O tipo de manto kasaya evidencia as diferentes escolas do budismo.
O manto monástico dos monges budistas, também representado na arte decorativa com as imagens de Buda, sofreu mudanças ao longo dos séculos conforme o Budismo foi introduzido em diferentes países. As culturas distintas trouxeram novos olhares para a filosofia religiosa de Buda e novas escolas foram criadas com crenças e simbologias particulares, embora partissem da mesma origem.
A indumentária, portanto, também sofreu variações conforme as escolas do Budismo. Ainda assim, todas apresentam a essência de simplicidade, reverência e abnegação. As roupas feitas com peças esfarrapadas descartadas deram espaço às confeccionadas a partir de doações de tecidos durante cerimônias como a Kathina. Esses são tingidos com especiarias (curry, páprica, cominho, açafrão, etc.) que dão o conhecido tom amarelado ou alaranjado.
O manto monástico tradicional é chamado de Tricivara ou Kasaya, e é constituído por três peças que podem ser utilizadas de forma independe de acordo com a ocasião. O tecido interior (Antaravasaka), é um tipo de saia sustentado por um cinto do século XVIII; enquanto o tecido superior (Uttarasanga), se assemelha a uma túnica que cobre apenas um ombro (normalmente o ombro direito é o descoberto) e é o mais caracterizado nas esculturas; já o tecido exterior (Sanghati), é um estilo de capa que cobre o ombro esquerdo.
No Budismo Theravada, dominante na Tailândia, Camboja e Sri Lanka, monges se apresentam com simplicidade seguindo o mesmo Kasaya de Buda. Na vertente do Budismo Mahayana, presente na China, Japão e Coréia, por sua vez, utilizam a túnica Uttarasanga com mangas largas e longas, devido às condições climáticas. Na tradição budista Vajrayana, que é predominante no Tibete, o vestuário dos monges tibetanos e dos Budas é mais ornamentado, incluindo bordados, detalhes coloridos e acessórios.
Escultura de Buda em pé, andando, sentado ou reclinado
Buda sentado é a mais representada no Budismo e alude o estado em meditação ou ensinando.
A postura exibida por Buddha é, geralmente, determinada em pé, andando, sentada ou reclinada (deitada) - embora alguns tipos de Buda, sobretudo os sentados, apresentam posturas de yoga (asanas). Eles evidenciam estágios de sua trajetória na vida terrena até acessar a iluminação. Por isso, quando na posição em pé, a arte zen demonstra o momento em que, após meditar, Buda se levanta pronto para ensinar as 4 Nobres Verdades com os pés firmes no chão. A escultura decorativa evidencia a firmeza da divindade e repele conflitos internos.
O Buda andando é a representação menos usual, originária da Era Sukhothai, e evidencia o desapego das ligações terrenas e o início de sua jornada de iluminação. Como consequência, a decoração budista com esta imagem inspira pacificação e bençãos. Já o Buda sentado, enfatiza a importância da meditação para a evolução espiritual e acesso aos estágios mais elevados de consciência. É a imagem de Buda mais reproduzida e diversificada, cujo propósito varia conforme o mudra que a acompanha. Virasana, Padmasana e Lalitasana são algumas das posturas sentadas mais comuns.
O Buda deitado é chamado de Parinirvana e demonstra o estágio final da vida de Gautama Buddha, o Buda Histórico. A postura reclinada ou do leão dormindo (sihasaiyas) caracteriza o estado de transição que antecede o alcance da iluminação ou do Nirvana, quando é liberto do Ciclo do Samsara (fluxo contínuo de nascimento, velhice, doença e morte).
Imagem de Buda gordo ou magro
Buda Gordo refere-se à Hotei enquanto sua aparência magra encarna Siddhartha Gautama.
É preciso compreender que Buda não é uma única figura, o título configura a natureza iluminada do ser e é por isso que Hotei (ou Budai), um dos Sete Deuses da Sorte, também é chamado de Buda Gordo ou Buda Sorridente. Na cultura chinesa, acredita-se que foi um monge budista da Dinastia Liang, cujo bom humor, magnanimidade e plena satisfação o fizeram alcançar o Nirvana. A barriga avantajada é um ícone das grandiosas compaixão e generosidade presentes em sua essência.
A figura mais magra, no entanto, é um retrato de Sidarta, o Supremo Buda, cujos ensinamentos fundaram o Budismo e suas vertentes. Na vida terrena, há cerca de 2500 anos, foi um príncipe que abdicou do tronco em busca de respostas para o sofrimento da humanidade. Essa trajetória de desenvolvimento espiritual o fez acessar a sabedoria divina, que há em tudo o que existe, e se iluminar. Sua imagem na arte budista é considerada hypostasis, ou seja, dotada de poderes espirituais.
Mãos de Buda com mudras ou acessórios budistas
Tal qual os gestos simbólicos, os acessórios budistas mostram o sentido da estátua de Buda.
A presença mudras, assim como as posturas, marca o momento da história de Buda e o ensinamento atrelado a ela. Esse conjunto é determinante para identificar não só o tipo de Buda que a arte decorativa assume, mas também a energia que nela vibra. Algumas esculturas restringem a concepção das mãos com os gestos simbólicos (mudras), outras os mesclam aos acessórios da prática e da filosofia budista - que também mostram caminhos com seus significados.
O Buda da Medicina (Bhaiṣajyaguru), por exemplo, é retratado segurando um pote medicinal (Yakko), contendo o néctar do dharma em uma mão, enquanto a outra demonstra o gesto simbólico gyan mudra. Não obstante, há uma diversidade de símbolos budistas e acessórios representados nas artes. O japamala, a flor de lótus, a roda do dharma, a árvore bodhi, são os mais retratados.
Obras mais detalhadas e/ ou com pinturas coloridas também auxiliam a compreender a mensagem central da arte Zen. O próprio Buda da Medicina é também interpretado com a cor azul, relacionando-o aos poderes de cura e o equilíbrio físico, mental e espiritual proporcionado por sua imagem. Posto que há Budas coloridos de todos os tipos, de cores sólidas a pinturas artísticas, para combinar com seu propósito e com a decoração do seu ambiente.
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Namastê!
Milene Sousa - Arte & Sintonia
1 comentário
Excelente ! Explicado de forma didática e muito clara. Adorei! Mas tenho uma pergunta: tem imagens de Buda associado aos dias da semana? E por quê?
Namastê!