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Filtro dos sonhos - Arte indígena para decoração étnica

Quem já se admirou pela poesia e leveza do momento em que a corrente de ar atravessa a janela e movendo sutilmente as franjas e penas de um filtro dos sonhos pode entender com inteireza que os pequenos detalhes que formam a estrutura de “teia de aranha” são igualmente encantadores e carregados dos mais nobres propósitos e significados.

Aos poucos percebemos que a cultura material dos povos ameríndios do Canadá (First Nations) estão presentes em nosso cotidiano como artes decorativas emprestando a rusticidade de suas estéticas para a decoração de interiores e suas histórias e lendas para que possamos ressignificar a nossa conexão com a espiritualidade e ancestralidade; além de voltar a nossa percepção para a ação da natureza nos ciclos da vida.

Segundo a etnógrafa Frances Densmore, esta arte aborígene origina-se da tribo indígena Ojibwe (também grafada como Ojibwa, Ojíbua ou pelo nome anglicizado Chippewa) e foi disseminada para outras tribos nativas americanas como Lakota, Cherokee e Navajo através da troca cultural favorecida pelo comércio e pelos casamentos. Posteriormente foi adotada como símbolo de unificação destes povos durante os Pan-Indian Movements entre as décadas de 60 e 70.

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A teia do filtro prende os sonhos ruins que são expirados com os raios do sol.

Há muitas lendas que conceituam o desenvolvimento do filtro dos sonhos e seu o significado espiritual, mas antes de sabê-los é imprescindível entender a relevância dos sonhos na cultura Ojibwe. Eles foram fundamentais e repletos de propósitos proféticos, para prever o futuro ou o nome de recém-nascidos; espirituais, a fim de orientar em dificuldades e simbólicos, com o intuito de definir significados pessoais para símbolos.

Em Ojibwe o apanhador de sonhos é simbolicamente chamado de asabikeshiinh, que significa aranha, devido a origem atrelada ao conto popular de Asibikaashi, uma figura espiritual com constituição híbrida “humana-aracnídeo” ou mulher aranha que fez o sol (giizis) brilhar novamente para a tribo.

Segundo a lenda, ela teceu dream catchers em todos os berços para proteger as crianças até o êxodo da população quando as mulheres da família passaram a trança-los para reter os pesadelos (bawedjigewin) permitindo que apenas bons sonhos (bawadjige) atravessassem. Os maus sonhos presos nas teias de oito pontos, representando as patas da aranha, eram expirados nos primeiros raios de sol.

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Dream catchers têm relação com a força da natureza nos ciclos da vida.

Com a expansão deste amuleto de proteção em outras culturas tribais as lendas foram adaptadas conforme suas próprias tradições. As histórias da tribo Lakota, por exemplo, estão entre as mais conhecidas. Uma delas atribui a criação do filtro dos sonhos à Iktomi, uma figura espiritual que apareceu sob forma de aranha para um líder Lakota durante sua meditação no alto de uma montanha.

Iktomi fez um aro de salgueiro, formou uma teia de fora para dentro com um círculo no centro junto a penas, contas e pontas de flechas e explicou a relação deste amuleto com a força da natureza agindo sobre os ciclos da vida, bem como sua conexão entre tudo o que existe, incentivando-o a reproduzi-lo para que os bons sonhos soprados pelos ventos da noite pudessem ser capturados por todo o povo.

Para os Lakotas os apanhadores de sonhos carregam seus destinos, auxiliam ou interferem na harmonia da natureza, detém a energia do Grande Espírito e seus ensinamentos.

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O aro simboliza unidade e a teia representa a proteção que filtra a energia do universo.

Densmore alegou que os filtros dos sonhos antigos eram tradicionalmente feitos em forma de aro ou lágrima (gota) com galhos de salgueiro vermelho, teia tramada com fios do talo de urtiga e adornados com elementos naturais e resquícios do cotidiano como penas, contas de madeira, pontas de flecha e pedras. Cada qual contribuindo energicamente com seu significado particular.

O aro de salgueiro representava a força e a unidade da mãe terra, do sol e dos ciclos da vida; a teia (web) simbolizava a aranha que tece proteção para nossos sonhos filtrando a energia do universo; já as penas demonstravam o espírito, os propósitos atribuídos ao filtro e o acesso sutil aos bons sonhos. Penas de coruja, por exemplo, exprimiam conhecimento enquanto penas de águia concediam coragem.

As miçangas, por sua vez, mostravam as 7 direções da teia que clamam bênçãos para as 7 profecias do fogo de Anishinaabe; enquanto as pontas de flechas (ou setas) manifestavam resistência, proteção e apontavam as 4 direções do vento (norte, sul, leste e oeste).

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Apanhadores de sonhos podem ser utilizados em ambientes como catalisadores.

Desde a difusão entre culturas até os dias atuais o significado do filtro dos sonhos sofreu muitas mudanças. No que tange a estrutura, o aro passou a ser confeccionado com materiais mais duráveis como o bambu e em outras formas como a lua; a teia de aranha deu lugar à outros tipos de tramas e padrões decorativos concedendo diferentes designs, a urtiga foi substituída por linhas não perecíveis e penas e contas naturais foram adaptadas para sintéticas.

A tradição espiritual da produção do dream catcher junto ao cuidado com a energia foi conciliada às tradições e crenças de outros povos. Os dos Cherokee, a título de exemplo, são elaborados em círculos interligados com influência da numerologia. Já os de nossa época apresentam maior preocupação estética para fins decorativos e não são utilizados apenas sob as camas, mas pendurados no ambiente ou decoração de parede desfrutados como catalisadores energéticos.

Artes indígenas como o filtro dos sonhos atravessaram gerações e culturas para mostrar a importância de acessar a espiritualidade, compreender a sabedoria natural, vivenciar os ciclos da vida com plenitude e enriquecer a decoração de interiores com propósitos elevados. Esses também são princípios presentes tanto em nossa loja virtual quanto nas artes zen selecionadas para nosso acervo a fim de transformar a energia dos ambientes.

Namastê!

Milene Sousa - Arte & Sintonia

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